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Em O Vencedor, até o público sai ganhando

09/01/2011

Dentre os possíveis indicados ao Oscar 2011 a serem anunciados no próximo dia 25, “O Vencedor” é o que mais se atém às fórmulas já conhecidas e aprovadas pela Academia. E é, acima de tudo, um bom filme. Em seu centro, há dois personagens verídicos: o boxeador profissional Micky Ward (Mark Wahlberg) e seu irmão Dicky Eklund (Christian Bale), que teve de abdicar da própria carreira no boxe frente ao vício em crack, mas repassou a técnica à Micky e o treinou em circunstâncias adversas até a conquista do título mundial.

Histórias assim, de superação de desafios e mensagens edificantes, têm apelo garantido entre o público e, quando bem contadas e interpretadas, também entre os votantes das premiações. Resumindo: “O Vencedor” é folhetim, mas um de muito bom gosto. Graças, certamente, à direção finíssima de David O. Russell (“Três Reis”, “Huckabees – A Vida É Uma Comédia”), que tira dos personagens qualquer vestígio de autocomiseração, sublinha até os acontecimentos mais tristes com doses de humor, e coreografa as sequências de luta, simuladas como foram transmitidas pela TV, com realismo e precisão.

Ajuda, e muito, que Wahlberg tenha vestido a camisa do projeto, ao qual doou tempo (foram cinco anos de preparação, muitos deles dedicados ao treinamento físico) e dinheiro (é creditado como produtor). Todos os atores com quem contracena estão dentro do momento e igualmente engajados. Bale, favorito à estatueta de coadjuvante, perdeu peso e glamour, maquiado para parecer macilento e castigado, e estampando alguns dentes a menos na boca, perdidos para a violência e as drogas. Melissa Leo no papel da mãe perua dos rapazes e Amy Adams como a moça que tira Micky do núcleo familiar opressor brilham nas mesmas proporções e também estão cotadas a receber indicação.

Nos enredos novelescos não há a necessidade de desenvolver os personagens mais do que a situação requere – desse modo, a maioria dos coadjuvantes são apenas tracejados, mas não coloridos (caso da verdadeira legião de irmãs de Dicky e Micky). Já os quatro que dão mote à trama são preenchidos escrupulosamente. O maior indicativo disso é que o esporte não é colocado como uma paixão que alguns pobres coitados penam para conservar: é, mais do que isso, o ganha-pão da família, e o que Micky e Dicky melhor sabem fazer. O boxe define quem os dois são, mas não os limita a ele. Não se trata, portanto, de um sucessor de “Rocky”, tampouco de uma experiência forte e contundente como o Ben-Hur do gênero, “Touro Indomável”. “O Vencedor”, em pretensões até modestas para uma fita com tanto jeito de Oscar, busca ser um entretenimento positivo e inspirador em seu relato de trajetórias muito humanas. Acertou em cheio.

.:. O Vencedor (The Fighter, Estados Unidos, 2010, Biografia / Drama). Cotação: A-

3 Comentários leave one →
  1. 09/01/2011 2:26 am

    Opa, estou muito animado para conferir o filme nos cines em fevereiro. Assim como você mencionou, deve ser excelente e barbada para indicações ao Oscar 2011. Abraço 🙂

  2. 09/01/2011 9:34 pm

    Quero assistir a este filme, exclusivamente, por causa do elenco! E é um tipo de história diferente pro David O. Russell trabalhar, né???

    • 10/01/2011 10:17 am

      Jeniss, excelente mesmo ele não é, mas é bom o suficiente para justificar várias indicações ao Oscar! Abraço.

      Ka, com certeza! E justamente onde O. Russell se sai melhor! Beijo.

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